Ministério autoriza outro sindicato a representar categoria em Volta Redonda, além de mais 5 cidades
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| Zequinha, presidente do novo sindicato, com o coordenador Luiz Rogério de Freitas: Ele reivindicava desmembramento havia 12 anos |
EXCLUSIVO
Um verdadeiro golpe na espinha dorsal do
poderoso Sindicato dos Rodoviários do Sul Fluminense. Assim pode ser
comparada a decisão do Ministério do Trabalho e Emprego de autorizar o
desmembramento da entidade, com a fundação de um novo sindicato, com
sede em Volta Redonda, que vai representar a categoria também em
Pinheiral, Piraí, Barra do Piraí, Valença e Rio das Flores. O despacho
com a concessão do registro foi publicado no Diário Oficial da União no
último dia 20. A base do Sindicato do Sul Fluminense ficará restrita a
Barra Mansa (onde está situado), Quatis, Resende, Itatiaia e Paraty.
No entanto, o novo sindicato vai se
limitar a defender os interesses apenas dos trabalhadores do transporte
coletivo, não incluindo quem trabalha em transportadoras. Mesmo assim,
o novo sindicato já nasce abocanhando cerca de 70% dos trabalhadores
de empresas de ônibus em relação à área que foi desmembrada. Estima-se
que sejam entre três mil e quatro mil rodoviários nas seis cidades onde
o novo sindicato vai atuar. Só em Volta Redonda, a Viação Sul
Fluminense tem cerca de 1,1 mil funcionários.
A concessão da carta magna, como é
chamado o documento que autoriza o funcionamento de um sindicato,
surpreendeu Raimundo José Filho, dos Rodoviários do Sul Fluminense. Ele
acreditava que o processo de criação do novo sindicato estava
arquivado. Ironicamente, quem deu o pontapé inicial no processo, em
2006, foi o advogado Hércules Anton, no período em que ele esteve
afastado da instituição sediada em Barra Mansa e presidida à época por
Salvador Curty. O advogado acabou voltando na gestão de Raimundo. O
pedido de registro, entretanto, seguiu adiante com outro advogado, de
Volta Redonda, que foi procurado por José Gama, o Zequinha (Viação
Pinheiral), agora presidente do novo sindicato.
- Tivemos várias audiências no Tribunal
Regional do Trabalho, no Rio, onde foi decidido pelo arquivamento do
processo. Agora chegou esta surpresa – disse Raimundo ao FOCO REGIONAL,
depois de ressaltar que, em fevereiro de 2008, numa assembleia
realizada na Praça Juarez Antunes, na Vila, 303 rodoviários de Volta
Redonda se manifestaram contra o desmembramento. “Este sindicato vai
ter o quê a oferecer a estes trabalhadores hoje?”, questiona o
sindicalista, para quem os rodoviários correm o risco de perder “as
conquistas” obtidas pela instituição antes do desmembramento.
“Eles não vão ter a garantia do último
acordo coletivo, o melhor dos últimos anos, quando conquistamos 10% de
reajuste. O Sindpass (Sindicato das Empresas de Transporte de
Passageiros) entende que não tem acordo fechado com este novo sindicato
e eles podem perder outras conquistas, como cesta básica, uniforme e
participação nos lucros”, acrescentou Raimundo. O Sindicato do Sul
Fluminense, segundo ele, tem 3,8 mil sócios, contra 600 da época em que
assumiu a presidência. Raimundo não esconde também a preocupação com o
impacto econômico em seu sindicato.
- Vai trazer dificuldades,
principalmente em razão dos atendimentos médicos, odontológicos e
exames, sem contar quem aderiu ao plano de saúde. O atendimento em
nossa subsede em Volta Redonda terá que ser cortado. Ou seja, os
familiares dos rodoviários ficarão expostos ao SUS – alertou. Raimundo
esclareceu que, à época em que era oposição, não participou do processo
para criar o novo sindicato porque, sendo de Barra Mansa, nem poderia
fazer parte dele.
O sindicalista confirmou que estão sendo
estudadas medidas jurídicas para impedir que o novo sindicato
funcione. “Nosso departamento jurídico é que vai determinar”, disse.
Ele ressaltou ainda que o Sindicato do Sul Fluminense tem
“credibilidade junto à Fetranspor”, a Federação das Empresas de
Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro. Vice-presidente
da Região Sul da Nova Central Sindical de Trabalhadores, Raimundo disse
ter sido informado de que o novo sindicato é ligado à Força Sindical
porque foi Luiz de Oliveira Rodrigues, o Luizinho (ex-presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos), quem orientou o grupo.
Zequinha lutava pela medida havia 12 anos
Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rodoviários em Transporte Coletivo de Passageiros, José
Gama, o Zequinha, lembrou que sua luta para desmembrar o Sindicato dos
Rodoviários do Sul Fluminense teve início 12 anos atrás. O pedido de
registro do novo sindicato no Ministério do Trabalho e Emprego deu
entrada em janeiro de 2006. Ele diz que todos os trâmites foram
cumpridos. “Há três anos vínhamos fazendo reuniões em Volta Redonda com
os trabalhadores”, afirmou. “Estamos agora trabalhando na
sindicalização dos rodoviários e informando as empresas do novo
sindicato”.
Coordenador e assessor da presidência,
Luiz Rogério de Freitas disse que em três dias foram feitas 546
filiações e que a direção quer conversar pessoalmente com o presidente
do Sindpass, Paulo Afonso Paiva Arantes – o que não havia conseguido
até o final da semana passada. “Está se falando muita coisa para ele,
mas nada saiu da nossa boca”, disse Rogério. Ele garantiu que não há
risco de os rodoviários da base do novo sindicato perderem o que foi
fechado com o Sindpass no acordo coletivo deste ano. “Se o Sindpass não
reconhecer isso, terá que negociar com a gente”, frisou o coordenador.
- Além disso, caso o sindicato não fosse
legal, o ministério não teria concedido o registro. Cumprimos todos os
requisitos – acrescentou.
De acordo com o presidente, o sindicato
nasceu “da insatisfação da base” com o sindicato-mãe. Sobre o fato de a
entidade ser filiada à Força Sindical, o presidente afirmou que foi
pela ajuda que recebeu. “Toda vez que procurava alguém, inclusive
deputados, o que mais ouvia é que deveria desistir porque não
conseguiria o desmembramento. Em 2005 fui levado ao Luizinho, que me
ajudou até onde pôde. Assumi um compromisso e vou caminhar junto com a
Força Sindical”, justificou Zequinha. Ele esclareceu ainda que, desde o
início, a proposta era que o novo sindicato representasse apenas os
trabalhadores do transporte coletivo, por isso, não incluiu os
rodoviários de cargas.
Depois de frisar que o sindicato
“precisa de um tempo para se estruturar”, Zequinha e Rogério disseram
que já estão em andamento negociações com para garantir aos associados
atendimento médico, odontológico e laboratorial.
O FOCO REGIONAL tentou ouvir o presidente do Sindpass, mas até o fechamento desta edição ele não retornou o telefonema solicitando a entrevista.